quinta-feira, 19 de junho de 2014

Especial: Copa do Mundo

Se o cinema só foi possível com a invenção dos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, hoje em dia não adianta negar: a indústria norte-americana domina o mercado cinematográfico no mundo inteiro, arrecadando as maiores bilheterias e consolidando seus personagens na cultura pop global. Ainda assim, os demais países não deixam de investir em suas próprias produções, algumas delas chegando a atingir destaque internacional. Aproveitando a deixa da Copa do Mundo, resolvemos trazer alguns dos filmes mais renomados dos países que estão participando dos jogos. Veja abaixo:


ALEMANHA

Good bye, Lenin! (2003) “Adeus, Lênin!”


Diretor: Wolfgang Becker
Elenco: Daniel Brühl, Katrin Saß, Chulpan Khamatova

“Good bye, Lenin!”, que já começa a instigar pelo título, traz uma interessante história sobre o período em que o muro de Berlim foi derrubado, ocasionando a unificação das Alemanhas Ocidental e Oriental em 1989. Alexander (Daniel Brühl) mora junto com a mãe (Katrin Saß) na República Democrática Alemã (RDA) – a parte oriental e comunista –, até que a matriarca sofre um ataque cardíaco e fica em coma por oito meses. Acontece que, nesse ínterim, a Alemanha se torna um país único novamente e a RDA começa a ser invadida pela influência capitalista. Temendo que sua mãe não suportasse a mudança que aquele lado da nação estava enfrentando, Alex, a partir de quando ela acorda, passa a esconder, de todas as formas possíveis, que comunismo foi derrubado. O filme, além de entreter e arrancar risadas, acaba por resumir de maneira primorosa esse pedaço da história alemã e das própria ideologias em conflito durante a Guerra Fria.


Die fetten Jahre sind vorbei (2004) “Os Edukadores


Diretor: Hans Weingartner
Elenco: Daniel Brühl, Julia Jentsch, Stipe Erceg

O título original alemão dá uma pista melhor sobre do que se trata a história: “Die fetten Jahre sind vorbei” traduz-se, literalmente, como “os dias de fartura acabaram”. A obra traz a história destes três jovens que são revoltados contra a exploração capitalista e toda a miséria e desigualdade provocada pelo sistema vigente. Buscando uma forma de justiça, eles invadem as casas suntuosas das famílias ricas – as quais, supostamente, são responsáveis pela manutenção do status quo. O problema começa quando eles são flagrados por um executivo enquanto usufruíam dos luxos de sua residência, acabando por sequestra-lo, em um ato de desespero. A partir daí, “Edukators” (título em inglês) apresenta reflexões sobre questões políticas, perpassando pela relevante discussão – comum às películas alemãs – sobre os sistemas econômicos e sobre de quem é a culpa pelas agruras do mundo.


ARGENTINA

Medianeras (2011) “Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual”


Diretor: Gustavo Taretto
Elenco: Javier Drolas, Pilar López de Ayala, Inés Efron

Se algum filme é prova do quanto o cinema de nossos hermanos pode ser cheio de sensibilidade, esse filme é “Medianeras”. A começar pelo nome, que designa as paredes laterais de prédios, em que não se pode construir janelas. Obviamente, a obra não trata de paredes – esta é apenas uma metáfora, a primeira das muitas que podem ser encontradas ao longo do roteiro e dos diálogos entre Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Enquanto ele prefere o isolamento e o refúgio de seu apartamento, ela acabou de sair de um longo relacionamento e precisa colocar as ideias em ordem. Apesar de morarem no mesmo quarteirão em Buenos Aires, eles, por um bom tempo, não cruzam o caminho um do outro: não é por acaso que o diretor definiu a temática do filme como sendo a solidão. É um filme belíssimo que mostra um pouco do cotidiano na capital argentina, enquanto aborda essas questões da alma que todos nós conhecemos tão bem.


El Secreto de Sus Ojos (2009) “O Segredo dos Seus Olhos”


Diretor: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago

Não é à toa que esta é uma das obras cinematográficas recentes mais famosas do país: “El Secreto de Sus Ojos” é um drama com elementos de mistério, investigação e romance – e tudo isso muito bem utilizado por Campanella. Baseado em um livro, chegou a receber o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 e o Prêmio Goya de melhor filme. A trama acompanha Benjamín Espósito (Ricardo Darín), escritor que acabou de se aposentar como servidor da justiça penal, em busca de uma história para seu novo romance. Para tanto, vai muito além que grande parte dos escritores, e resolve reabrir um caso não-resolvido de assassinato e, por conta própria, tenta descobrir a identidade do culpado. Há muitas surpresas ao longo do enredo e garanto que nem se vê as duas horas passarem. É, sem dúvidas, um grande filme.


JAPÃO

Ikiru (1952) “Viver”


Diretor: Akira Kurosawa
Elenco: Takashi Shimura, Nobuo Kaneko, Shin'ichi Himori

Seria extremamente desrespeitoso de minha parte falar de obras-primas japonesas sem citar Kurosawa. Um dos maiores cineastas do arquipélago, Akira Kurosawa influenciou inúmeros diretores com seus trinta filmes e chegou a receber da Academia um Oscar honorário, em 1989. Embora pudesse citar vários de seus longas, “Ikiru” é um bom exemplo do quanto um filme pode ser simples e, ao mesmo tempo, emocionar e levar o espectador a refletir sobre sua vida. Kanji Watanabe (Takashi Shimura) é um senhor com idade já avançada e que trabalha há décadas na mesma repartição, realizando sempre o mesmo serviço burocrático. Mau humorado e caxias, Kanji vê sua vida mudar depois de descobrir um câncer em seu estômago, praticamente uma bomba-relógio que reduz seu tempo de existência a poucas semanas. Só pela sinopse, já deve ter dado pra notar que o filme é uma verdadeira lição de vida; destaco a cena do balanço, que estampa o pôster, que é realmente belíssima. “Ikiru” é uma verdadeira obra-de-arte do cinema japonês.


Sen to Chihiro no Kamikakushi (2001) “A Viagem de Chihiro


Diretor: Hayao Miyazaki
Elenco: Daveigh Chase, Suzanne Pleshette, Miyu Irino (vozes)

Apesar de ser uma animação, não há dúvidas de que a grande obra do mestre Miyazaki merece figurar aqui. Para quem dá importância aos prêmios ganhos, saiba que a encantadora história de Chihiro conquistou a estatueta de Melhor Animação no Oscar de 2003, além do Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 2002. Chihiro é uma menina de dez anos que está de mudança com os pais a contragosto; no meio do caminho, entretanto, eles atravessam um túnel e acabam em um mundo fantástico, com direito a todos os tipos de bizarrices e seres fantasiosos. Após ver seus pais serem transformados em porcos, a garota é forçada a trabalhar, ao mesmo tempo em que busca de um meio de salvá-los, para que consigam sair daquele mundo paralelo. Com toques surrealistas, o filme diverte e impressiona pela riqueza de detalhes. E para quem acha que animações são apenas para o público infantil, não poderia estar mais enganado: “Sen to Chihiro no Kamikakushi” não só é capaz de agradar a pessoas de todas as idades, como é inteligente ao abordar, por meio de metáforas, as mais diversas questões sobre a natureza humana.


Texto produzido por Adônis D. Tarallo.

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